Duas biografias desfazem a lenda, aceita até pela Fifa, de que Friedenreich marcou mais gols que
Pelé(Mauricio Stycer - www.globo.com.br/esportes)
O fim Em 1935, para ganhar alguns trocados, El Tigre atuou em quatro partidas pelo Flamengo. Perdeu duas, empatou duas e não fez nenhum gol
Apesar do nome difícil de escrever e de pronunciar, Arthur Friedenreich (1892-1969) foi o primeiro craque do futebol brasileiro. Filho do comerciante alemão Oscar e da lavadeira brasileira Matilde, nasceu mulato de olhos azuis. Aos 15 anos, magro, ágil e com pernas finas, já batia um bolão. Contrariando a natureza, alisava o cabelo com gomalina para ficar mais parecido com os colegas de gramado, que jogavam - sem receber - por times chamados Germânia, Ipiranga e Paysandu. Fried, como era conhecido, começou a fazer gols em 1911 e só parou em 1935. Foi artilheiro do Campeonato Paulista oito vezes. Ajudou o Paulistano a conquistar o campeonato da cidade seis vezes. Em 1919, no Estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, tornou-se uma celebridade internacional, vestindo a então camisa branca da Seleção Brasileira. Depois de mais de 120 minutos de partida, fez o único gol do jogo contra o Uruguai, dando o título sul-americano ao Brasil. Foi carregado em triunfo e apelidado pelos uruguaios de El Tigre.Até aí todos os registros coincidem. Os problemas começam na tentativa de estabelecer quantos gols o tigre brasileiro marcou no total. O velho Oscar chegou a anotar num caderno os primeiros jogos e gols do filho. Em 1918, o atacante confiou a tarefa a um colega do Paulistano, o center-forward Mário de Andrada, que seguiu a trajetória do craque por mais 17 anos. Andrada anotou detalhes das partidas até o encerramento da carreira de Fried, em 21 de julho de 1935, quando ele vestiu a camisa do Flamengo (mas não marcou gols) num 2 a 2 contra o Fluminense.Se já se suspeitava que Fried havia sido o maior artilheiro brasileiro de todos os tempos, a lenda ganhou consistência em 1962. Naquele ano, Mário de Andrada disse ao jornalista Adriano Neiva da Motta e Silva, o De Vaney, que tinha todas as fichas de todos os jogos de Fried, podendo provar que o craque atuara em 1.329 partidas, marcando 1.239 gols. Andrada, porém, morreu antes de mostrar as fichas a De Vaney, que nunca as viu. A estatística, no entanto, começou a rodar o mundo, e ainda por cima de forma errada. No livro Gigantes do Futebol Brasileiro, de Marcos de Castro e João Máximo, de 1965, consta que Fried marcou 1.329 gols. Outros livros e até enciclopédias referendaram o registro. A Fifa, entidade máxima do futebol, chegou a publicar o dado num de seus boletins, o Fifa News.Os 1.239 (ou 1.329) gols de Friedenreich sempre intrigaram os especialistas. Muitos consideravam o número fantasioso, impossível de ser alcançado num tempo em que se jogava muito menos do que hoje. Outro problema: com 1.329 gols, Fried teria sido maior até do que Pelé. Até que, no ano passado, um jornalista de 24 anos resolveu perscrutar a carreira de El Tigre. Alexandre da Costa ("O Tigre do Futebol") conferiu os registros de todos os jogos de Fried em pelo menos dois jornais, Correio Paulistano e O Estado de S. Paulo, e chegou a dois números surpreendentes: 554 gols em 561 partidas. "Não quis destruir o mito", jura o autor de O Tigre do Futebol. "Adoro o Fried. Apenas quis esclarecer essa questão."O problema é que não esclareceu completamente.
Pelé(Mauricio Stycer - www.globo.com.br/esportes)
O fim Em 1935, para ganhar alguns trocados, El Tigre atuou em quatro partidas pelo Flamengo. Perdeu duas, empatou duas e não fez nenhum gol
Apesar do nome difícil de escrever e de pronunciar, Arthur Friedenreich (1892-1969) foi o primeiro craque do futebol brasileiro. Filho do comerciante alemão Oscar e da lavadeira brasileira Matilde, nasceu mulato de olhos azuis. Aos 15 anos, magro, ágil e com pernas finas, já batia um bolão. Contrariando a natureza, alisava o cabelo com gomalina para ficar mais parecido com os colegas de gramado, que jogavam - sem receber - por times chamados Germânia, Ipiranga e Paysandu. Fried, como era conhecido, começou a fazer gols em 1911 e só parou em 1935. Foi artilheiro do Campeonato Paulista oito vezes. Ajudou o Paulistano a conquistar o campeonato da cidade seis vezes. Em 1919, no Estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, tornou-se uma celebridade internacional, vestindo a então camisa branca da Seleção Brasileira. Depois de mais de 120 minutos de partida, fez o único gol do jogo contra o Uruguai, dando o título sul-americano ao Brasil. Foi carregado em triunfo e apelidado pelos uruguaios de El Tigre.Até aí todos os registros coincidem. Os problemas começam na tentativa de estabelecer quantos gols o tigre brasileiro marcou no total. O velho Oscar chegou a anotar num caderno os primeiros jogos e gols do filho. Em 1918, o atacante confiou a tarefa a um colega do Paulistano, o center-forward Mário de Andrada, que seguiu a trajetória do craque por mais 17 anos. Andrada anotou detalhes das partidas até o encerramento da carreira de Fried, em 21 de julho de 1935, quando ele vestiu a camisa do Flamengo (mas não marcou gols) num 2 a 2 contra o Fluminense.Se já se suspeitava que Fried havia sido o maior artilheiro brasileiro de todos os tempos, a lenda ganhou consistência em 1962. Naquele ano, Mário de Andrada disse ao jornalista Adriano Neiva da Motta e Silva, o De Vaney, que tinha todas as fichas de todos os jogos de Fried, podendo provar que o craque atuara em 1.329 partidas, marcando 1.239 gols. Andrada, porém, morreu antes de mostrar as fichas a De Vaney, que nunca as viu. A estatística, no entanto, começou a rodar o mundo, e ainda por cima de forma errada. No livro Gigantes do Futebol Brasileiro, de Marcos de Castro e João Máximo, de 1965, consta que Fried marcou 1.329 gols. Outros livros e até enciclopédias referendaram o registro. A Fifa, entidade máxima do futebol, chegou a publicar o dado num de seus boletins, o Fifa News.Os 1.239 (ou 1.329) gols de Friedenreich sempre intrigaram os especialistas. Muitos consideravam o número fantasioso, impossível de ser alcançado num tempo em que se jogava muito menos do que hoje. Outro problema: com 1.329 gols, Fried teria sido maior até do que Pelé. Até que, no ano passado, um jornalista de 24 anos resolveu perscrutar a carreira de El Tigre. Alexandre da Costa ("O Tigre do Futebol") conferiu os registros de todos os jogos de Fried em pelo menos dois jornais, Correio Paulistano e O Estado de S. Paulo, e chegou a dois números surpreendentes: 554 gols em 561 partidas. "Não quis destruir o mito", jura o autor de O Tigre do Futebol. "Adoro o Fried. Apenas quis esclarecer essa questão."O problema é que não esclareceu completamente.
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